domingo, janeiro 20, 2008

daqui a 4 anos...


há uma pergunta que muita gente gosta de fazer nas entrevistas: "como se vê daqui a 5 anos?"
pois bem, eu não sei onde vou estar daqui a 5 anos.
contudo, consigo perspectivar a minha vida para daqui a 4.
daqui a 4 anos, espero eu que ainda esteja vivo, vejo a minha vida de uma forma diferente da que vejo hoje.
eventualmente, serei advogado. talvez não o seja, mas é algo que quero ser. quero cumprir esse sonho.
assim, daqui a 4 anos, espero bem ser o advogado mais filho-da-puta que há no escritório. não serei o homem do contenciosos, mas serei o mestre do corporate.
daqui a 4 anos, vejo-me a acordar cedo.
levanto-me e vou tomar um duche rápido. vou vestir aquele fato que me compraste e usar aquela gravata de seda. é amarela, para que não passe despercebida. é berrante, para que todo o escritório repare que não me importo que não seja a norma do advogado.
deixar-te-ei o pequeno-almoço preparado, mas vou deixar-te dormir. afinal de contas, tiveste uma noite tão cansativa como a minha.
pegarei nos pequenos, visto-os e dou-lhes as torradas com leite.
depois, pego neles e meto-os naquele mercedes enorme que me obrigaste a comprar. nesse momento, sonho um bocadinho acordado com o nosso fim-de-semana que já planeei sem que tu saibas. penso no roadster com 50 anos que comprei àquele senhor que ficou inválido e não o podia conduzir mais, mas que eu ainda posso cuidar dele e apreciá-lo como uma máquina daquele calibre deve ser apreciada.
vejo-nos a ir para o hotel na sexta-feira nele. nunca gostaste muito do carro, mas sabes que é o meu refugio do mundo dos homens. alem disso, tu adoras sentir o teu cabelo ao vento. dá-te uma sensação de liberdade que nem o blackberry sempre a tocar te consegue tirar.
ainda bem que a tua mãe concordou ficar com os pequenos. assim, temos todo o tempo para nós. sim, sei que lhes vais telefonar a toda a hora, mas não me importo. sinceramente, e sem querer parecer preocupado, o mais novo deve estar a chocar qualquer coisa.
deixo-as na escola e telefono para te dar os bons dias.
ficaste chateada comigo por não te acordar. tinhas trabalho para fazer e não te podias dar ao luxo de acordar em cima da hora, mas dormias tão angélicamente que não tive coragem para te acordar. desculpa.
chego ao escritório e tudo muda. lá dentro, sou um cabrão. os estagiários mal me conseguem aguentar com o trabalho que lhes dou.
os sócios não me curtem e já estão fartos de mim, mas não podem fazer nada. é que aquela pequena avença que lhes trouxe. além do mais, temos que prepara a nova AG da merda daquele banco. eles sabem que não hámais ninguém como eu. nem para o bem, nem para o mal. sou bom e eles sabem disso. o J. até já me veio falar em sociedade. ele sabe que ando a ser rondado pela M.
e foi um dia de trabalho. são 9 da noite e estou a sair so escritório.
estou a sentir-me mal porque não estive contigo, nem com os pequenos.
tu também não estiveste. deves estar agora também a sair.
custa-me este tempo que passo longe deles, longe de ti.
se não fossem os almoços alargados que fazemos e em que vamos buscá-los à escola para estarmos todos juntos, não sei como aguentaria.
a caminho de casa, vejo uma florista. não resisto. tenho de parar. parei o carro e só desejava que não houvesse policia por perto pois as multas estão cada vez piores.
entro e compro apenas uma rosa vermelha.
não é preciso mais. só aquela para te mostrar que o sentimento continua aceso como daquela primeira vez em que me apercebi do quanto significas para mim.
chego a casa. os pequenos já estão a dormir. não tenho coragem de os acordar. na quinta-feira vou tirar a tarde e leva-los ao cinema, ou talvez a outro sitio, mas não vou deixar perder a oportunidade de estar com les. é a única tarde livre que eles tem, tadinhos.
vejo que tu estás a chegar a casa. hoje, conseguiste chegar depois de mim. sei que andas um bocadinho chateada por não te dizer o que ando a fazer para aquele novo cliente, mas sabes que negócios são negócios.
entras em casa.
percebo que estás cansada. não vou tentar nada que te desagrade, mas dou-te a rosa. ficas derretida. é o costume do "não devias", mas sabes que gostaste do gesto e eu sei que li te fiz feliz. deixo-te descanmsar um bocadinho no sofá. faço-te uma massagem para relaxares e fico a olhar-te enquanto adormeces com o cansaço todo de um dia no escritório.
quando adormeces, finalmente, pego em ti, e levo-te para a cama. deito-te. dispo-te, mas não me dou ao trabalho de te vestir o pijama.
gosto de ti assim, nua, sem status, sem compromissos, sem um passado e sem um futuro.
tu acordas e és minha. só por esta noite só por todas as noites pois sei que todos os dias tu és a mãe, a advogada, a esposa, a amiga, a esposa.
admiro essa força que tu tens.
consegues fazer tudo, mas à noite, tu és só minha.
e depois deste dia, daqui a 4 anos, eu sei uma coisa, nós somos felizes.

7 comentários:

Anónimo disse...

Wow. Duplo Wow. Grande post Zé.
E, sim, tens razão.

Anónimo disse...

daqui a 4anos, nao precisas de deixar os putos com a sogrinha, entao amigo temos q dar trabalho as babysitteres :) beijos marilia

Meghy disse...

És bom!

Anónimo disse...

Olá Pereira! Gostei muito do teu texto!E às vezes também me pergunto como será esse futuro incerto. Hoje,penso k daki a 4 anos, ainda não terei filhos,nem um mercedes (ou como tu dizes, o BMW). mas daki a um mês esse quadro já pode 'tar td alterado.pk a verdade é que as coisas,num curtíssimo espaço de tempo, podem dar uma volta de 180º. por isso, qd penso no futuro, lembro-me disso e que, às tantas, será completamente diferente dakilo k eu sempre imaginei.

Dúbia disse...

É verdade, bem visto o futuro é tão incerto como o presente, ou até mesmo como foi o passado... há coisas que não podemos controlar, eis uma delas. A verdade é que sem sonhos somos meros espectadores da vida, portanto fazes bem em sonhar, planear, querer... porque afinal é isso um bom bocado daquilo a que se chama viver...

Anónimo disse...

Quem és tu e o que fizeste ao meu padrinho?

Para quando o livro? quero saber o resto da história!

xD *

P.S O roadster com 50 anos tem bem mais estilo do q o actual. esse sim, é um CARRO! Além disso, sendo descapotavel acaba por atenuar o cheiro nojento a pinheiro.

Dúbia disse...

HA, ha ela também não gosta do cheiro a pinheiro, ou direi eu pseudo-cheiro a pinheiro :D