domingo, março 16, 2008

a droga e a dor



todos temos uma droga.
não é preciso que seja uma substância química que nos põe em transe.
todos temos um droga, algo que não conseguimos largar, mas que nos vai destruindo lentamente, sem sequer repararmos que já não somos nós próprios.
não somos, nem voltaremos a ser.
eramos puros, antes de encontrar essa droga. eramos felizes, ou fazíamos por isso, mas não continuamos assim.
é impossível continuar assim.
encontarmos essa nossa droga, essa substancia, essa pessoa que achamos que nos vai fazer felizes, que encontarmos tudo aquilo que sempre precisamos, mas as coisas não são assim, nem tudo vai ficar bem, mas nós não nos importamos pois sentimos que é o correcto, que é aquilo que nos traz felicidade, que é aquilo que nos faz gritar ao mundo unteiro que somos felizes, que somos os maiores, que temos aquilo que sempre procuramos.
mas as coisas não são assim. nós não conseguimos ser felizes, não conseguimos manter aquilo que queremos.
as coisas acabam, acaba-se a felicidade, acaba-se outro sentimento, a pessoa vai-se embora.
então e depois?
todos acreditamos que conseguimos ultrapassar tudo. toda a gente nos diz que somos fortes, que ultrapassamos as nossa fraquezas e que não era aquilo que nos fazia felizes, mas não é bem assim.
nós sofremos. começa a doer, lá dentro, bem dentro do nosso peito, bem no fundo da alma.
nós precisamos dessa nossa droga, seja ela quem for, mas precisamos dela, para conseguirmos ser felizes, para nos mantermos sãos, para conseguir pensar direito.
nós precisamos, mas não temos.
é aí que sofremos à séria. é aí que choramos e é aí que nos deitamos todas as noites, já não para dormir descansados depois de um dia longo, mas porque já não temos capacidade de nos mantermos acordados de tão cansados que estamos de sofrer.
é essa a nossa ressaca dessa nossa droga.
é esse o sofrimento que sentimos por não estarmos com ela.
mas será que algum dia recuperamos?
bem, ninguém vive em ressaca para sempre.
sim , toda a gente acaba por fazer o seu tratamento, toda a gente acaba por aprender a viver sem essa nossa droga.
mas ñunca volta a ser o mesmo.
nós aprendemos a viver sem, mas nunca mais somos o que eramos.
tanto a inocência perdida nunca mais volta, como´nem nós voltamos a ser os mesmos.
podemos parecer os mesmos, podemos passar dia todo sem essa nossa droga, mas vai estar sempre na nossa cabeça, vai estar o nosso coração a pedi-la.
nós não recuperamos, não voltamos ser felizes, não voltamos a ser quem eramos.
simplesmente, aprendemos a conviver com essa falta. aprendemos a sentir a presença dessa dor e acabamos por senti-la como parte de nós?
quem é que estou a tentar enganar?
ela é mesmo parte de nós.
e nós vamos vivendo. nunca mais vivemos. vamos vivendo, suportando os dias com uma máscara de quem não somos, acabando por ter como única e real companheira essa dor.
essa nossa amiga que nos acompanha sempre. essa esposa que nunca nos deixa realmente ser felizes com uma outra droga, mas que nos trai e que nos mantem ali, bem doridos, bem a sofrer.
às vezes, essa dor vai-se embora.
não acontece muitas vezes, e nunca se vai embora de vez.
é quando temos uma recaída, quando voltamos a ter essa droga, quando nos deixamos cair outra vez nos braços desse vício.
aí, a dor desaparece, mas simplesmente porque voltamos à droga que nos mantem o coração aprisionado.
voltammos tempos pós-felicidade inocente, voltam as sensações quase-para-normais, volta aquela falsa sensação de felicidade eterna.
volta tudo, menos essa dor.
essa dor é esquecida. essa nossa velha amiga de tantos anos é posta de parte e nós nem sentimos remorsos. queremos viver de novo e essa dor nem sequer alguma vez foi nossa amiga.
era só alguma coisa que preenchia um vazio deixado pela ausencia dessa nossa droga.
mas já devíamos saber que as drogas são passageiras, e quando voltam só nos vão deixar em pior estado do que da última vez, mas não nos importamos.
estamos felizes de novo, ou, pelo menos, começamos a viver nessa ilusão.
só que essa droga acaba por se ir embora. ela vai-se sempre embora.
não há nada a fazer.
todos nós temos a nossa droga, e todos sabemos bem como ela vem e vai.
e quando ela se vai, retorna o vazioque tem de ser preenchido com alguma coisa.
e aí retorna a nossa velha amiga, aquela que nunca nos abandona. a nossa velha amiga dor, que retorna sem ressentimentos por a termos abandonado temporariamente.
ela não se importa. sabia que voltava.
então, vai chegando aos poucos, sabendo que vai ficar conosco até ao momento em que tivermos uma nova recaída, sabendo que depois vai desaparecer, mas que também vai voltar.
sê benvinda, velha companheira. fiquemos juntos por mais uns tempos...

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