domingo, janeiro 25, 2009

surpresas

não gosto de surpresas.
tal deve-se ao facto de, raramente ficar surpreendido com algo que valha a pena.
prefiro saber com o que conto.
porquê? pá, porque, até ao momento, muito poucas pessoas me conseguiram realmente surpreender, e curiosamente, ainda menos pela positiva.

as pessoas tem aniversários, tem festas, tem comemorações nas quais estão à espera de ser surpreendidas. eu já desisti.

afinal de contas, fazer uma surpresa a alguém tem um misto de enigma e antecipação que termina com um enorme sorriso por parte de quem é surpreendido.
infelizmente, as pessoas que me tentam surpreender claramente não me conhecem.

consequentemente, quando fazem a sua grande surpresa, ou acabo por estar exactamente à espera que aquilo acontecesse porque, vá, como não havia ideias para me surpreender, fazem um monte de perguntas estupidas e acabo por levar com algo que eu disse só porque me perguntaram, ou sou totalmente surpreendido com uma merda qualquer para a qual tenho que esboçar um sorriso e dizer que adorei e que não deviam ter feito aquilo e que são o máximo e que me conhecem tão bem quando, na verdade estou a fazer contas à vida para ver onde é que vou enfiar tamanho traste.

é a vida. a culpa não é vossa.

quando celebrei os meus 18 anos, tal como qualquer miúdo com 18 anos e prestes a tirar a carta, só havia uma coisa que eu podia querer: um carro. na altura, nem me interessava que fosse potente, novo, bonito, económico, verde-alface ou não tivesse rádio. queria um carro e dei bastantes indirectas aos meus pais.
desde constantes revistas da especialidade que apareciam subitamente na mesa de jantar, na cama do meu pai, na casa de banho, espalhadas pelo chão, por todo o lado.
tambem não sei bem como, mas já tinha explicado todas as especificações técnicas e preços e cotações de todos os carros em todos os stands desde vila nova de cerveira até à maia.
acho que os meus pais tinham percebido a indirecta e sabiam o que eu queria.
no dia dos meus anos, ainda não via nenhum carro e começava a desanimar. nessa altura, alguém meu conhecido me diz que, logo à noite, vou ter um carro. que não lhe perguntasse como sabia porque não me iria dizer, mas que ia ter um carro.
não me disse mais nada e eu aguardei impaciente o momento em que acabaram as aulas para me meter no primeiro autocarro para casa.
quando cheguei, lembro-me perfeitamente de correr até à garagem que eu ajudei a construir com o meu sangue, suor e lágrimas, e não estava lá nada. completamente vazia, sem carro à vista.
pensei eu que o meu pai não seria parvo para deixar lá o carro para eu ver sem que ele cehgasse.
fui para o meu quarto tentar manter-me ocupado, mas havia só uma coisa que me passava pela cabeça: o carro, como seria, de que cor, de três ou cinco portas, gasolina ou diesel, teria jantes especiais, então e um motor turbo, seria um clio, um mercedes, um opel... era o que me passava pela cabeça.
lembro-me de ouvir um carro a chegar e fui a correr para a varanda. era o carro do meu pai, com o meu pai lá dentro. não havia carro para mim.
mas espera, quando o meu pai comprou o carro dele, foi o meu irmão que o trouxe para casa. seria, concerteza o esquema que se ia passar naquela noite.
mas não, o meu irmão chegou no carro dele. quando chegou, não vinha com ele, nem o meu sobrinho, nem a minha cunhada. "foram a casa dos pais dela. vem a pé" diz o meu irmão. e pronto, lá volta a minha expectativa de receber um carro, trazido pela minha cunhada, mas não. eles chegaram mesmo a pé e subi eu o caminho da saída de minha casa para ver se não estaria lá nada estacionado. mas não havia lá nada.
e lá foram as minhas expectativas esmorecendo, tal comoo sentimento de alguma vez ter um carro. convenhamos, não ia receber um carro dos meus paise tinha gasto as minhas economias a tirar a carta. já me estava a ver a só comprar um carro dois anos depois de sair a universidade. a minha liberdade estava adiada. passei o jantar do meu aniversário calado.
e foi aí que chegou o bolo de anos. toda a gente a cantar e no escuro, cheio de velas, apareceu... um bolo em forma de carro...
foi a coisa mais estupida que alguma vez me tinham feito e, provavelmente, a maior crueldade que podiam terfeito comigo.
sabiam o que eu queria, deram-me esperanças e causaram-me o sentimento que o iria ter e quando me puseram as expectativas bem no alto por tal prenda, tirararm-me o tapete de baixo dos pés.
fui deitar-me desiludido, sozinho e profundamente magoado com o "presente" que me prometeram.

a partir daí, nunca mais celebrei o meu aniversário. é apenas mais um dia em que é suposto termos as expectativas bem altas para serem rapidamebte deitadas abaixo.
tmbém nunca mais gostei de receber prendas enm que me fizessem surpresas porque me apercebi que as surpresas que todos nos fazem são uma valente merda.

continuo a não gostar de surpresas, gosto de saber com o que conto. ao menos, assim, já me posso ir preparando.

ao menos, nos dias que correm já não fico desiludido. é a vantagem de já não esperar muito daqueles que, supostamente, me conhecem.

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